sábado, 3 de dezembro de 2011

CONTABILISTA – PROFISSIONAL MULTIDIMENSIONAL


A Força do Trabalho

Num dado momento de sua formação, o cidadão – muitas das vezes em tenra idade – se inclina para determinada atividade laborativa que vá garantir o seu desenvolvimento, a constituição de sua familia e a sua sobrevivência por toda a vida.

Essa escolha lhe assegurará prosperar e consolidar o seu caráter.
Gonzaguinha bem definiu a importância do trabalho quando poetou a memorável canção Um Homem Também Chora (Guerreiro Menino):

Um homem se humilha
Se castram seu sonho
Seu sonho é sua vida
E vida é trabalho...

E sem o seu trabalho
O homem não tem honra
E sem a sua honra
Se morre, se mata...


Trabalho representa dignidade para o ser humano.

Decisão Acertada

Embora sejam diversos os aspectos da função social do contabilista a mim me parece que aquela volvida à prosperidade é a de maior relevo.
Lopes Sá


Inúmeros são os fatores que influenciam homens e mulheres na decisão da carreira futura. Felizes são aqueles que acertam desde logo, e abraçam uma formação que lhes traga mais do que uma ocupação, e sim lhes traduza senso de efetiva utilidade e, mais ainda, felicidade no seu caminhar por anos a fio.

Nesse sentido, quem opta pela formação Contábil faz boa escolha.
Mercado de trabalho existirá. No Brasil as entidades devem manter um sistema de escrituração uniforme dos seus atos e fatos administrativos, e a escrituração contábil e a emissão de relatórios, peças, análises e mapas demonstrativos e demonstrações contábeis são de atribuição e de responsabilidade exclusivas do profissional de contabilidade legalmente habilitado (Resolução CFC 1330/11 – ITG 2000).

A contabilidade lida com o patrimônio das entidades, seus fenômenos e variações, com o fito de revelar como o mesmo se encontra, fornecendo dados essenciais à tomada de decisão. Uma atividade, portanto, de inquestionável utilidade na dinâmica do mundo dos negócios, que contribui objetivamente para o desenvolvimento da sociedade.

A Busca da Felicidade

É mais poderoso aquele que tem poder sobre si.
Sêneca


Mercado de trabalho e utilidade são, pois, pontos fortes desse segmento. Mas, e quanto à felicidade e à realização humana?

O psicólogo Abraham Maslow firmou a tese amplamente difundida na administração moderna de que a felicidade resulta da satisfação de necessidades fundamentais e as representou por meio de uma pirâmide de hierarquias. Maslow afirmou que as necessidades primárias tinham que ser atendidas antes, para que as pessoas pudessem ascender ao nível seguinte, partindo da fisiologia, passando pela segurança, amor e relacionamento e estima até alcançar a realização pessoal.

Por sua vez, Tenzin Gyatzo, o 14º Dalai-Lama, em sua obra conjunta com o consultor Laurens van den Muyzenberg (Liderança para um Mundo Melhor), agrega a visão oriental e afirma:

Os conceitos budistas sobre riqueza, trabalho, consumo e felicidade são um pouco diferentes de seus equivalentes ocidentais. A felicidade é mais que a mera satisfação de nossos desejos materiais e de outra ordem, e esta é uma distinção importante. A raiz da felicidade é outra além do que desejamos ou obtemos; é algo muito diferente. Provém de um lugar de contentamento que existe independentemente do que ganhamos ou realizamos.


É comum ouvir-se dizer que a atividade contábil é estafante, que as exigências legais são de toda a ordem, que a pressão é às vezes quase insuportável, e muito mais. Porém, uma reflexão há que ser feita: Será só a prática contábil que traduz esses sentimentos de pressão constante? O que pensam os cirurgiões, os pilotos da aviação, os pesquisadores da Antártida, e tantas outras atividades profissionais?

Na verdade, todos os campos da atividade humana oferecem condições estressantes. No entanto, nem todos os profissionais realçam essas naturais adversidades, se comparadas a tantos outros predicados que cada profissão oferece.

Impermanência – Mudança é o Estado Natural das Coisas

As pessoas mudam no decorrer de um longo espaço de tempo. Elas se tornam pessoas diferentes, com diferentes necessidades, diferentes capacidades, diferentes perspectivas e, assim sendo, com a necessidade de se reinventarem.
Peter Drucker


Thomas Friedman, jornalista estadunidense que se notabilizou pela tese que deu título a seu livro “O Mundo É Plano” explora as possibilidades decorrentes da malha de redes de fibras óticas espalhadas ao redor do globo terrestre e sua implicações na mudança de hábitos. Logo no início de sua obra, o autor relata uma conversa mantida com Jaithirth Rao, o “Jerry”, amigo pessoal de Bangalore, capital de Kamataka, na ìndia. Alguns trechos ajudam a ilustrar o novo quadro na cena internacional:

"Jerry foi uma das primeiras pessoas que conheci em Bangalore. Estávamos apenas alguns minutos no hotel Leela Palace quando ele disse que podia cuidar do meu imposto de renda, ou de qualquer outro serviço de contabilidade de que eu precisasse – e sem sair de Bangalore. Agradeci e retruquei – já tenho contador em Chicago. Jerry limitou-se a sorrir ... Sua empresa conta com uma equipe de profissionais indianos habilitados a prestar serviços contábeis tanto para pessoas físicas ou jurídicas de qualquer Estado norte americano quanto para o governo federal dos E.U.A.

– Iguais à do meu contador? (perguntou Thomas Friedman)

– É, como a do seu contador – retrucou sorrindo ... Estamos encarregados de milhares de declarações – acrescentou Rao. – O seu contador nos EUA pode estar na praia, na Califórnia, distante de seu escritório, e nos mandar um e-mail dizendo: Olha, Jerry, como você é ótimo nas declarações do Estado de Nova York, pode ficar com a declaração do Tom.

Em 2003, cerca de 25 mil declarações de imposto de renda de americanos foram feitas na Índia. Em 2004, esse número chegou a 100 mil. Em 2005, a estimativa era de 400 mil. Dentro de uma década, pelo menos os elementos básicos – ou mais – de todas as declarações americanas serão terceirizados pelos contadores.

– Então, o que você está me dizendo – perguntou Thomas a Rao – é que seja qual for a sua profissão – médico, advogado, arquiteto ou contador-, se você for americano é melhor tratar de se dedicar à coisa da prestação de serviços “com amor”, porque tudo o que puder ser digitalizado também pode ser terceirizado para alguém mais esperto ou mais barato, ou as duas coisas?

– Cada um tem que se concentrar exatamente naquilo que agrega valor – respondeu Rao.

– Mas seu eu for um contador mediano ... trabalhando numa grande firma de contabilidade, onde sou encarregado de tarefas repetitivas? Dificilmente terei contato com os clientes – é um cargo que fica na sombra –, mas levarei uma vida razoável e a empresa, de modo geral, estará satisfeita com o meu trabalho. Nesse sistema, o que poderá acontecer comigo?

– Boa pergunta- disse Rao. – Vamos falar com franqueza; estamos em meio a uma grande transformação tecnológica, e, quando se vive na sociedade que está na vanguarda dessas mudanças [como os E.U.A.] é difícil prever. Para quem vive na Índia, o prognóstico é óbvio; daqui a dez anos, estaremos fazendo muito mais do que hoje se faz na América ... O que é preciso fazer é encarar a situação e discutir o assunto de maneira honesta."


O Profissional Multidimensional

É preciso entender que as pessoas são multidimensionais. Têm corpo, coração, mente e espírito e necessidades particulares associadas com cada uma dessas dimensões.
Stephen Covey


Diante de tantos desafios, alguns já conhecidos, outros espantosamente novos e imprevisíveis, o que, então, poderá fazer a diferença para o Contabilista, levando-o a encontrar razões de sentir algo mais, além da utilidade e ocupação? Peter Drucker empresta uma solução simples, até mesmo singela, mas de grande valor: Tornar-se um Profissional Multidimensional.
Tomemos como exemplo uma citação que Bruce Rosenstein atribui ao renomado consultor em “O Legado de Peter Drucker”.

O que interessa é que o trabalhador do conhecimento, ao chegar à meia-idade, já terá formado e nutrido um ser humano em vez de um auditor fiscal ou um engenheiro hidráulico. Caso contrário, alguns anos depois o consultor fiscal ou o engenheiro hidráulico, se tornará desesperadamente superado e chato.

“Trabalhador do conhecimento” é a expressão cunhada por Drucker em 1959 em Lands of Tomorrow e que permanece em evidência crescente a cada dia, nesse mundo globalizado, nessa era conhecida como a sociedade do conhecimento, onde o capital intelectual passa a ser mensurado e reconhecido por empresários e pelo ambiente de negócios.

Ricardo Saldanha, do Intranet Portal, por exemplo, assim se refere ao tratar sobre o “trabalhador do conhecimento:

Uma coisa é certa: trata-se de um profissional que tem incorporado na sua atividade diária o ato de pensar – e de agir. O “trabalhador do conhecimento” é, sobretudo, alguém que incorporou ao seu modelo mental e às suas atividades uma postura proativa. É aquele também que, tendo em vista a complexidade do mundo em que vive, sabe que ninguém mais detém, sozinho, o conhecimento necessário para que as coisas aconteçam. Portanto, sua autoimagem deixa de ser “mais uma peça na engrenagem”, um “recurso humano”, como acontecia na era industrial, passando a ser alguém que faz a diferença.


Cultura e Generosidade

Devemos nos tornar a mudança que queremos para o mundo.
Mahatma Gandhi


Além da competência técnica, o profissional deve agregar ao seu cotidiano hábitos em duas outras linhas de ação pessoal: o desenvolvimento de sua cultura geral, e a prática da generosidade humanitária. Aí sim, estará a caminho de sentir-se um profissional multidimensional ao agregar tais fatores à sua vida cotidiana.

É necessário disciplina e organização do tempo para conciliar a roda-viva dos inumeráveis compromissos da agenda profissional com competências essenciais ao autodesenvolvimento e aos legítimos propósitos de vida. Assim como o lucro para as empresas, a atividade profissional deve ser encarada como meio de sobrevivência, muito mais do que como uma finalidade da vida.
As manifestações culturais assumem as mais diversas expressões, do popular ao clássico e erudito. Seja o gosto pela literatura, música ou cinema; pela pintura ou escultura; teatro ou balé, da Escola de Samba, ao concerto no Theatro Municipal ... o que importa é saber que o interesse pela cultura desperta talentos muitas vezes inertes no ser humano e faz aflorar seus melhores sentimentos, nutrindo os seus sonhos e fazendo aflorar a sua criatividade.

Já a generosidade deve ser habitual, especialmente quando praticada além dos muros das respectivas famílias, quando voltada à sociedade como, por exemplo, o trabalho voluntário. Viver uma vida holística, onde as pessoas se importam umas com as outras, fará o mundo cada vez melhor de se viver. Quem é solidário, sente diretamente os resultados, embora o faça sem o sentido do retorno do investimento.

Mais se beneficia, quem melhor serve! afirmam os mais de 1.250 mil Companheiros espalhados por mais de 32.500 Rotary Clubs em todo o mundo. Nós servimos! assegura, com entusiasmo, um contingente de igual tamanho de Companheiros nos Lions Clubs. São profissionais e empresários que dedicam parcela de seu tempo em serviços humanitários prestados sem qualquer remuneração ou retribuição em seus negócios. Para esses homens e mulheres, muitos dos quais contabilistas de várias nacionalidades, Servir dignifica o ser humano.

Evolução Permanente

As palavras comovem, os exemplos arrastam.
Santo Agostinho


Ao longo de sua existência o homem evoluiu em pelo menos cinco Eras: a do Caça-Coleta (arco e flecha); a Agrícola; a Industrial; a da Informação (onde surge o trabalhador do conhecimento); e neste milênio ingressa a passos largos na Era da Sabedoria, que representa, segundo Stephen Covey, o poder de escolher nosso rumo e propósito, e obedecer as leis naturais e os princípios imutáveis e universais, atemporais e auto evidentes. E conclui o autor de O 8º Hábito – Da Eficácia à Grandeza:

Quando a informação e o conhecimento estão impregnados de propósitos e princípios meritórios, temos a sabedoria. A sabedoria é filha da integridade – integração em torno de princípios. E a integridade é filha da humildade e da coragem.

O Contabilista, agindo com naturalidade como um autêntico profissional multidimensional, será fonte de permanente agregação de valor à sociedade, muito além de sua importante contribuição técnico-contábil. Será um ser no exercício pleno da cidadania, uma referência para a sociedade, um líder servidor.

Exemplo de vida perseverante, construtiva, inspiradora, entusiástica, que alegremente irradia bons ensinamentos, emana luz e amor, constrói a paz e a compreensão entre seus concidadãos, enobrece a espécie humana e constrói o futuro, com ação e visão, na certeza de que a Humanidade é a sua missão.

Joper Padrão do Espirito Santo
Acadêmico, Contador

Discurso proferido na Academia de Ciências Contábeis do Estado do Rio de Janeiro
Volta Redonda, dezembro 3, 2011

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